domingo, 12 de fevereiro de 2012

A coleira pesada...



Era escrava porque tinha se dado, corpo e alma para fazer o que fosse bom e agradável ao seu Senhor. Master Cesar cuidava de sua serva com firmeza, mas com justiça. Ela o servia dia e noite com a devoção de uma mulher que ama, e esta é, sabidamente, a maior das devoções. Os dias eram curtos. A serva manifestava seu amor e cuidado por seu Dono na perfeição dos detalhes do trabalho doméstico. À noite, os serviços sexuais eram verdadeiras demonstrações de entrega, o mais puro e inquieto tipo de entrega. Master Cesar satisfazia toda sua luxuria e sadismo no corpo da sua escrava, e ela encontrava seu prazer na realização plena do seu Senhor. Todos em volta diziam que Master e escrava se completavam. Eram felizes. Viviam em paz e harmonia, a não ser por um pequeno detalhe.

Como presente de sete anos completos de sua submissão, a escrava recebeu uma coleira especial. Feita pelas mãos dos artesãos mais conceituados da época, a peça era provocantemente bela. Formada por ouro trabalhado em estilo barroco, com diamantes encravados por toda sua extensão.  Era larga, para que pudesse ser vista a muitos metros de distancia. O brilho das iniciais do Mestre, contornadas por fileiras de rubis era algo impressionante, nunca antes visto na região.

A escrava orgulhosamente recebeu sua coleira com lágrimas de alegria inundando sua face delicada. Em sinal de respeito e gratidão, ela ajoelhou-se e docemente pressionou os lábios contra as botas de seu Senhor, um ato que ela sempre realizara com alegria durante esses sete anos de domínio.

Por dias a escrava exibiu sua coleira sem nem sequer notar que algo havia mudado. O peso da jóia que cobria seu pescoço quase por inteiro era levemente incomodo, sem dúvida. Mas até mesmo o simples fato de saber que carregava consigo o símbolo de sua entrega compensava qualquer desconforto que pudesse ter. A escrava não tinha autorização para libertar-se da coleira nem mesmo durante o banho. Ela sorria enquanto limpava seu corpo, e tocava as iniciais do doce nome de seu Dono. O tempo todo, dia e noite, a coleira era como uma companhia inseparável e agradabilíssima.

Na semana seguinte, quando a escrava foi fazer suas compras rotineiras, notou um olhar diferente vindo das outras escravas que por ali passavam. O que acontecia era que estavam enciumadas, invejosas do brilho e imponência da coleira que passava por elas. Quietas, ofendidas em suas coleiras de metal elas cochichavam, olhavam com maldade, e por fim viravam o rosto em desdém voltando a seus afazeres. Alem disso, viajantes, vendedores ou mesmo outros Mestres que passavam pareciam também por algum motivo evitar olhar para aquela escrava. Culpa, ela descobriu mais tarde, do brilho excessivo do ouro em seu pescoço. O sol era refletido com tal forca na largura da coleira, que feria os olhos de quem se atrevesse a olhar para a serva. Com o tempo, todos acabavam por evitar contato visual com a escrava do Master Cesar e sua coleira.

A escrava zelosa não se importou com a solidão, no inicio, afinal, ela tinha o mais importante que era o amor e o reconhecimento de seu único Dono. Ela, ainda com todas as dificuldades, sorria e cuidava de seus afazeres. Mas não tinha como negar que o peso da coleira já estava afetando até mesmo as tarefas domésticas. A dor que sentia sobre os ombros aos poucos a impossibilitou de ser tão cuidadosa quanto antes. A cama ficava cada vez menos arrumada. As roupas eventualmente ficavam manchadas. A comida já não era tão bem feita e saborosa. Aos poucos, a dor nos ombros já era dor nas costas, e a escrava já não fazia com tanta freqüência a reverencia espontânea de beijar os pés do Master quando sentia gratidão por seu Senhor. Ela percebeu também, que com tanta dor e dificuldade de movimentar-se, até mesmo as tarefas sexuais que ela antes realizara com tanta paixão e entrega, já a incomodavam. Ela certamente não era a mesma escrava. E Ele parecia aos olhos dela, diferente, embora nada nele houvesse mudado.

Em dois ou três meses de coleira nova, a vida havia se tornado um verdadeiro inferno na terra. A escrava perdera sua postura. Agora andava arqueada, gemendo pelas ruas, reclamando da dor que era sentida em cada centímetro de seu corpo escravo. As outras escravas já não se preocupavam em disfarçar os risos de escárnio. Ela chorava todo dia, sentindo-se a pior das escravas porque agora, a irritação a invadia e ela por muitas vezes pensava em fugir.

Fugir... mas para onde? Que seria dela agora que já usara a coleira? Onde encontraria abrigo? O que diriam os amigos e conhecidos do Master Cesar? Quem a compreenderia, sendo ela apenas uma escrava? E a traição definitivamente não condizia com sua personalidade. Nunca antes havia sequer pensado em fugir... Mas agora... A dor... A dor era bem maior do que podia suportar.

Seis meses haviam se passado. Era manhã. Ela esperou que Ele deixasse a casa. Chorando de vergonha, andou até o espelho e levou as mãos tremulas à nuca. Em um ímpeto, desprendeu a coleira, livrando-se dela, finalmente. A peça brilhante foi deixada sob a cama. A escrava foi vista pela ultima vez, correndo para a floresta, sem a jóia que sempre a acompanhara.
- Morte certa – disseram as outras escravas – A floresta não é segura. Certamente se sobreviver aos perigos da noite, ela será capturada por algum cavaleiro viajante.

No frio, jogada aos pés de uma árvore, indefesa e ignorando os riscos que corria, a escrava adormeceu. E dormiu muito bem, pois o chão duro e coberto por folhas não causava desconforto maior do que o peso da coleira que havia usado por tanto tempo.

E então Ele a encontrou.

Ela esfregou os olhos:

- Quem é você?
- Não sou daqui. Não creio que saibas meu nome. De onde venho sou conhecido por Harsh, Master Harsh.
- Vai me escravizar? – disse a menina, assustada, encolhendo-se como criança.
Ele riu.
- Não sei. Talvez. Mas pelo que vejo você não tem grande prazer em pertencer.
- Não, não é isso, Senhor. Não é assim.
Ele sentou-se calmamente ao seu lado.
- Pois então explique como é. Preciso decidir o que fazer com você. Não posso deixá-la na selva para o deleite dos animais que te rodeiam nesse exato momento. Conte-me porque fugiu. Resolva essa minha dúvida...
- Duvida? – ela perguntou.
- Sim. Preciso saber se te devolvo a seu Dono, a quem você desrespeitou por fugir dessa maneira, ou se te levo comigo pra longe.
A escrava fugitiva assumiu a posição de submissão, cruzando os pulsos e os oferecendo pra ele quase instintivamente. Ele olhou para baixo balançando a cabeça em indignação.
- Isso, pequena, é o princípio dos problemas entre Master e escrava. Uma boa escrava não se entrega assim para o primeiro aventureiro que passa! Veja a posição em que me coloca! Agora, de acordo com os códigos de ética, devo aceitá-la como minha, ou usar minha espada para libertá-la da vergonha da rejeição!

Ela sorriu.
- Se me matares estarei bem. Se me deixares aqui, também morrerei, o sabes. Leva-me contigo e servirei a sua casa com honra e gratidão. Apenas não me ponha a coleira pesada!
- Coleira pesada?

A escrava contou sua história, desde os dias de glória na casa de Master Cesar, até os dias de dor e solidão que a coleira de ouro a fizeram passar. Contou os detalhes que afligiam seu íntimo, a tristeza de dia a dia ver sua submissão falhar, vez após vez, tarefa após tarefa. Contou como se sentiu indigna e fraca ao finalmente livrar-se da coleira e sair correndo para a floresta, levando apenas as sedas que usava.

Master Harsh passou a mão pelo pescoço da menina assustada.
- Querida, as vezes quando homens tem algo muito precioso, sentem medo. Medo da perda. A coleira em seu pescoço foi antes de tudo uma forma de ocultar seu próprio brilho. Um erro. Você tem uma essência maravilhosa. Se usá-la, levará apenas honra e glória para aquele a quem pertencer. Não o ouro, querida, mas sua entrega. Não os diamantes, mas a determinação em seu olhar. Não os rubis, mas o amor cativo que carrega em seu coração. Isso sim, deve brilhar. E se outros a invejassem, se outros Mestres a quisessem, eu os compreenderia. É da natureza do homem querer o que não lhe pertence. Por isso somos historicamente conquistadores. Existem riscos que um Master deve escolher correr.

- Sim, sim, Senhor, eu entendo. – Ela disse – Mas a que preço! Perdi minha casa, meu nome, meu lugar.
- Não, querida. Sua casa, seu nome, seu lugar, ainda não lhe foram mostrados. – Ele levantou-se. – Collar!
A menina assumiu a posição na qual as escravas em geral recebiam suas coleiras. A simples lembrança de estar aprisionada pela coleira pesada era mais do que ela podia suportar. As lagrimas desciam ininterruptamente.
Máster Harsh então olhou para a capa que ele usava. Rasgou violentamente parte do tecido negro. Uma tira longa da seda fina foi amarrada em volta do pescoço de sua mais nova aquisição.
A escrava tocou seu pescoço e sorriu. Master Harsh secou com as mãos as lágrimas da menina. Os dois sorriram. A coleira de tecido era suave ao toque e agradável.

Em outro lugar, distante do primeiro, ouviu-se rumores de uma escrava que usava como coleira um retalho de tecido. No inicio, quando as outras escravas a viam, riam maliciosamente. Com o tempo, o riso sarcástico transformou-se em sorriso fraterno e amoroso. Ela foi recebida e instruída pelas outras sobre o dia a dia na região. Amizades foram feitas. A escrava não estava mais sozinha. Master Harsh a conduziu por um caminho novo e fantástico...  Era escrava, sem sombra de duvidas. Mas sentia-se livre! Completamente livre para servir, obedecer, cuidar e amar a seu Dono.


(( Texto retirado do site GOR Brasil ))

{lualiz}_Dom Wolfman

2 comentários:

Khelworst RS disse...

Lindo conto! Amei!òtima escolha bjsss

docealiz disse...

Lindo texto lualiz ... parabens seu blog e lindo ... bjinhos doces e saudações ao SR que te guia ...

{docemorena}_Doutrinador ®